A desistência da alemã
DaimlerChrysler em continuar comandando acionariamente a japonesa
Mitsubishi Motors Corporation, desfazendo-se das 37,3% das ações que
detinha desta empresa, provocou ações rápidas e conseqüências no
Brasil: a manutenção do projeto do Smart ForMore, em Juiz de Fora, MG,
e a autorização para construir um novo produto, sobre a plataforma do
ForMore, pela MMC em Catalão, GO.
A decisão, imprevista, comunicada primeiro à imprensa e depois ao
sócio, gerou afastamento de todo o grupo alemão liderado por Rolf
Eckrodt — ex-presidente da Mercedes no Brasil e que comandava a MMC —
e forçou solução interna. A empresa convocou Oichiro Okazaki, 61,
ex-presidente da Mitsubishi Heavy Industries, nos EUA, para
substituí-lo. O executivo aplicou sua vivência na companhia e no maior
mercado do mundo para criar um novo caminho para a marca, estruturado
em apenas 10 dias.
Observadores mundiais acham que, se o projeto de Okazaki, a ser
apreciado por assembléia de acionistas no próximo 20 de junho, for
aprovado, a Mitsubishi voltará a ser a Mitsubishi, com ênfase em sua
liderança tecnológica, que vinha sendo absorvida e embaçada pela DC.
A reestruturação da companhia começa com o aporte de US$ 4 bilhões,
por emissão de ações subscritas por empresas do grupo — faturamento de
US$ 500 bilhões, 1/10 do PIB japonês; e transformação de débitos
bancários em ações da empresa; prossegue com redução de custos,
dispensa de 10 mil funcionários e redução de 17% da produção. Neste
período de muda, a empresa aplicará mais engenharia própria ao
desenvolvimento de produtos, querendo ressaltar e individualizar o que
chamou DNA Mitsubishi, ou seja, a qualificação tecnológica de seus
produtos.
Nos produtos, a marca focará atenções na família Pajero e veículos de
alto desempenho, como o Lancer Evolution, reduzindo plataformas de 15
para 6. No mercado norte-americano, centrar-se-á em utilitários
esporte e picapes. Para a Ásia, incluindo sua poderosa aliada chinesa,
um carro novo e específico.
O
projeto plota o ano fiscal de 2006/7 para a volta dos lucros. Apesar
de estar implícito que minguará nos outros sedãs, está explícito que
manterá os acordos realizados com a DaimlerChrysler, especialmente no
que se refere às plataformas que cedeu para a construção dos novos
modelos Smart — a pequena marca da Mercedes —, ForFour e ForMore (ao
lado). Para tanto, a DC fica sem direito de veto em assembléia e
reduzirá sua participação acionária a 22%. Chucrute no sushi, nunca
mais.
No Brasil
Existirão distintas conseqüências em nosso país. Para a
DaimlerChrysler, que se prepara a fazer um novo carro em Juiz de Fora,
não existirão problemas. Apesar de o ForMore utilizar plataforma
Mitsubishi — que a Mercedes brasileira diz desconhecer —, os acordos
entre as duas empresas estarão mantidos, de acordo com os contratos
assinados pelas mudanças societárias.
Para a MMC, que representa produtos Mitsubishi no Brasil,
aparentemente as mudanças serão para melhor. Em primeiro lugar enterra
as teorias que a Mercedes local assumiria sua operação, enxuta e
rentável. Em segundo, garante apoio à marca em Catalão e sua insólita
situação de ser empreendimento no qual a Mitsubishi japonesa nada
investiu, faturando apenas os louros e lucros líquidos de presença
através de uma empresa brasileira e independente, em um mercado
crescente como atualmente é o Mercosul.
Neste direcionamento, a MMC terá direito a produzir novo produto,
sobre a plataforma que servir ao Smart ForMore. Conseqüência
previsível, implícita, é o trânsito de bom entendimento com o novo e
todo poderoso diretor executivo da matriz japonesa, Hideyasu Tagaia.
Tendo desempenhado funções de supervisão sobre a América Latina,
Tagaia conhece bem a operação da MMC no Brasil e foi um dos avalistas
para a conquista de independência operacional e no desenvolvimento de
produtos. |