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Alemão briga com japonês,
brasileiro sai ganhando

DaimlerChrysler desiste da Mitsubishi e gera conseqüências
no Brasil: vem aí um novo carro feito em Catalão, GO

por Roberto Nasser - Fotos: divulgação

Roberto NasserA desistência da alemã DaimlerChrysler em continuar comandando acionariamente a japonesa Mitsubishi Motors Corporation, desfazendo-se das 37,3% das ações que detinha desta empresa, provocou ações rápidas e conseqüências no Brasil: a manutenção do projeto do Smart ForMore, em Juiz de Fora, MG, e a autorização para construir um novo produto, sobre a plataforma do ForMore, pela MMC em Catalão, GO.

A decisão, imprevista, comunicada primeiro à imprensa e depois ao sócio, gerou afastamento de todo o grupo alemão liderado por Rolf Eckrodt — ex-presidente da Mercedes no Brasil e que comandava a MMC — e forçou solução interna. A empresa convocou Oichiro Okazaki, 61, ex-presidente da Mitsubishi Heavy Industries, nos EUA, para substituí-lo. O executivo aplicou sua vivência na companhia e no maior mercado do mundo para criar um novo caminho para a marca, estruturado em apenas 10 dias.

Observadores mundiais acham que, se o projeto de Okazaki, a ser apreciado por assembléia de acionistas no próximo 20 de junho, for aprovado, a Mitsubishi voltará a ser a Mitsubishi, com ênfase em sua liderança tecnológica, que vinha sendo absorvida e embaçada pela DC.

A reestruturação da companhia começa com o aporte de US$ 4 bilhões, por emissão de ações subscritas por empresas do grupo — faturamento de US$ 500 bilhões, 1/10 do PIB japonês; e transformação de débitos bancários em ações da empresa; prossegue com redução de custos, dispensa de 10 mil funcionários e redução de 17% da produção. Neste período de muda, a empresa aplicará mais engenharia própria ao desenvolvimento de produtos, querendo ressaltar e individualizar o que chamou DNA Mitsubishi, ou seja, a qualificação tecnológica de seus produtos.

Nos produtos, a marca focará atenções na família Pajero e veículos de alto desempenho, como o Lancer Evolution, reduzindo plataformas de 15 para 6. No mercado norte-americano, centrar-se-á em utilitários esporte e picapes. Para a Ásia, incluindo sua poderosa aliada chinesa, um carro novo e específico.

O projeto plota o ano fiscal de 2006/7 para a volta dos lucros. Apesar de estar implícito que minguará nos outros sedãs, está explícito que manterá os acordos realizados com a DaimlerChrysler, especialmente no que se refere às plataformas que cedeu para a construção dos novos modelos Smart — a pequena marca da Mercedes —, ForFour e ForMore (ao lado). Para tanto, a DC fica sem direito de veto em assembléia e reduzirá sua participação acionária a 22%. Chucrute no sushi, nunca mais.

No Brasil
Existirão distintas conseqüências em nosso país. Para a DaimlerChrysler, que se prepara a fazer um novo carro em Juiz de Fora, não existirão problemas. Apesar de o ForMore utilizar plataforma Mitsubishi — que a Mercedes brasileira diz desconhecer —, os acordos entre as duas empresas estarão mantidos, de acordo com os contratos assinados pelas mudanças societárias.

Para a MMC, que representa produtos Mitsubishi no Brasil, aparentemente as mudanças serão para melhor. Em primeiro lugar enterra as teorias que a Mercedes local assumiria sua operação, enxuta e rentável. Em segundo, garante apoio à marca em Catalão e sua insólita situação de ser empreendimento no qual a Mitsubishi japonesa nada investiu, faturando apenas os louros e lucros líquidos de presença através de uma empresa brasileira e independente, em um mercado crescente como atualmente é o Mercosul.

Neste direcionamento, a MMC terá direito a produzir novo produto, sobre a plataforma que servir ao Smart ForMore. Conseqüência previsível, implícita, é o trânsito de bom entendimento com o novo e todo poderoso diretor executivo da matriz japonesa, Hideyasu Tagaia. Tendo desempenhado funções de supervisão sobre a América Latina, Tagaia conhece bem a operação da MMC no Brasil e foi um dos avalistas para a conquista de independência operacional e no desenvolvimento de produtos.

Lixo estrangeiro, problema nacional

Em meio às dificuldades para cumprir as instruções do Conama, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, que obrigará no próximo ano a que os fabricantes de pneus, a cada quatro unidades vendidas, dêem fim a cinco unidades usadas, e aos questionamentos sobre a possibilidade de se efetivar fiscalização para o cumprimento da norma, um projeto de lei do senador Flávio Arns foi objeto de audiência pública para discutir contrapartidas ambientais para a produção de pneus no Brasil e importação de pneus usados, dá o sentido que toma a regulamentação deste convívio com lixo do exterior.

Importar pneus usados é problema entre o legislativo e o executivo. Um concede, o outro proíbe. Por brechas legais e por falta de avaliação dos fabricantes de pneus novos, a importação de carcaças acabou lubrificada por lobbies e pressões diversas. Na audiência o autor fez cândida defesa ao alegar que pneus velhos trazidos do exterior não se constituem em lixo importado; que reformá-los no Brasil dá 13 mil empregos; e que as carcaças usadas têm 80 mil quilômetros de garantia.

Para um país que não consegue resolver as mazelas do descarte da produção interna, trazer pneus carecas, desprezados pelos europeus, japoneses e norte-americanos, para reciclá-los e usá-los internamente, mais que reverência subserviente, resolvendo o problema de poluição alheio e incrementando-o localmente, é uma aposta no caos.

Se a medida fosse para garantir empregos, o Brasil poderia, isto sim, transformar-se em ponto de reciclagem, vendendo serviços ao exterior. Importaria os pneus carecas, inservíveis, o lixo alheio, e aqui os reformaria, remoldaria — todos os nomes de marketing que atualmente emprega — para exportá-los aos países de origem, onde poderiam ser utilizados, como diz o senador Arns, por cinco anos ou 80 mil quilômetros.

Se os norte-americanos, japoneses e europeus, que nos enviam as carcaças, nada querem com este processo, por quais razões devemos arranjar um problema série de poluição, aumentando a nossa incapacidade de dar final ecológico ao lixo formado pelos pneus carecas?

Utilizar número de empregos para garantir um negócio prejudicial é o mesmo que defender a prática de todos os crimes organizados. Jogos de azar, bingos, tráfico de entorpecente, prostituição, por exemplo, devem dar maior número de empregos, e nem por isto a sociedade deve se dobrar à sua permissão legal. Continua

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Data de publicação: 1/6/04