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Da competência privada
e da incompetência pública

A busca por produtividade e competitividade do Brasil é
comprometida pelos custos indiretos sobre o produto

por Roberto Nasser - Fotos: divulgação

Roberto NasserA distância que os investidores estrangeiros estão tomando do Brasil, promovendo se não a fuga, pelo menos o cancelamento de investimentos, tem base no receio da falta de retorno em função da falta de crescimento econômico e provocou reação no segmento empresarial: a formação do Movimento pela Competitividade das Empresas Brasileiras. Os participantes têm a convicção que a falta de velocidade na economia do país corta-o da lista de destinos para as inversões estrangeiras.

A distância entre a competência privada e o desleixo público foi-me dada a concluir durante almoço com o eng. Rogélio Golfarb, presidente recém-empossado da Anfavea, a associação das fábricas. Recentemente tirou um dia de sua agenda para vir a Brasília e ficar por conta do pioneiro Museu do Automóvel inaugurado na Capital Federal. Uma demonstração de prestígio à idéia de salvar veículos e conquistas da indústria automobilística no Brasil, e de respeito à história, dever de casa que o Museu cumpre, mas que deveria ser obrigação das fábricas nacionais e da associação que dirige.

O eng. Golfarb é um homem de habilidades demonstradas em seu discurso de posse, surpreendendo ao traçar metas de conquista de vendas e resultados em sua gestão, condicionando-os a parâmetros que devem ser perseguidos pela administração pública caso não queira atrapalhar a retomada de crescimento, lucros, remuneração de investimentos, e a possibilidade de futuro para a indústria automobilística no Brasil. Na conversa descontraída fez as colocações de maneira profissional, poupando-se das conclusões que poderiam criar embaraços nas mesas oficiais que freqüenta.

Duas se combinam com a notícia de abertura deste comentário, o desabar deste país na lista de conquistas econômicas e de competitividade. A primeira foi numérica: para que uma fábrica consiga economizar 5 dólares na construção de um carro, sem tirar componentes — suprimindo-os, como fazem, sem arte, é enganação —, tem que contratar 50 engenheiros, para auditar todo o processo produtivo.

Mas tal economia nada resolve, porque ao momento em que o produto sai da fábrica, seja a caminho dos concessionários, seja para exportações, no que depender de estrutura administrada pelo governo, o prejuízo infringido é grande. Seja pela carga de impostos, a cada dia aumentada em parcelas e em percentuais, seja pela falta de estrutura profissional — desde o relacionamento pouco claro sobre os transportadores de veículos, até os buracos nas estradas que retardam a entrega dos produtos, os pedágios caros, sem lei e sem ordem, a confusão nos portos, de operação demorada, cara, descuidada e danosa aos veículos.

A busca por produtividade e competitividade do Brasil, interna e externamente, é comprometida pelos custos indiretos que oneram o produto e reduzem vendas e lucros. A segunda é âmbito institucional. Ele entende que o país — quer dizer a administração federal sem projetos — não entende que a indústria automobilística no Brasil pode ter caído em produção para a 11ª. ou 12ª. posição em volume de produção e vendas. Mas que é mercado volumetricamente importante, e acima de tudo, constitui-se num nível de preparo que poucos países podem exibir.

Segundo o presidente da Anfavea, além do fato de o país dispor de recursos naturais, tem instalações industriais novas, competitivas; um parque de autopeças de primeiro nível; mão de obra qualificada e testada; e acima de tudo engenharia de desenvolvimento com excelente nível de qualidade, capaz de projetar e construir veículos inteiros, competentes, duráveis e de custo contido.

Como o Brasil, avalia, talvez existam cinco países tão preparados para fazer veículos — e nenhum dos mercados emergentes, tão festejados ultimamente, como México, Rússia, China, tem estas capacidades. “O país tem que ter mercado interno“, enfatiza. “Exportações devem ser conseqüência disto”.

Os números são alarmantes. Um carro que custe o número 100 no portão da fábrica chega ao consumidor a 180. Se não tiver motor de 1,0 litro, ultrapassa os 200. Nos Estados Unidos, onde o consumo em grandes volumes garante emprego, impostos e consumo em grandes volumes, este veículo chega ao comprador a pouco mais de 110. Lá, todos os impostos somam 6%!

Hora de trabalhar
O que hoje está em jogo não são as vendas, os empregos dos metalúrgicos, ou os impostos — afinal, carro que não é produzido não dá empregos nem recolhe impostos. Arrisca-se o futuro do país como atraente para investimentos estrangeiros, capazes de suprir nossa incapacidade em capital. A indústria automobilística é uma das principais referências no cenário econômico.

Há um alarme visual nas ruas. Olhe os carros que estão no mercado, quase todos pequenos. Não há espaço de vendas que gere lucros para justificar, por exemplo, investimentos para fazer um novo modelo do Chevrolet Omega, último dos nacionais de maior porte. E os carros nacionais estão ficando defasados em estilo e tecnologia relativamente aos similares estrangeiros, pela mesma razão. O Brasil não produz motores a gasolina, os de Ciclo Otto, com mais de quatro cilindros. Quase todos são de 1.000 cm³, e os de maior cilindrada também são projetos defasados.

A conclusão parece óbvia. O governo federal deve-se perguntar o que quer no específico setor que há poucos anos atraiu investimentos em torno de 20 bilhões de dólares: se uma indústria apta a oferecer veículos competitivos, capazes de abrir caminhos em exportação, ou apenas reduzir o mercado, cobrando mais impostos sobre os veículos a cada dia produzidos em menor quantidade.

Se marcou “X” na primeira questão, a solução é fácil: basta exumar a competência já provada pelas Câmaras Setoriais, onde os representantes da cadeia produtiva buscam soluções para os problemas. Foi esta solução criou as condições de atração das novas fábricas e produtos.

Se não quiser, faça uma reunião interna para criar uma lista de discussões. Depois, convoque uma plenária com os tantos companheiros que têm sido colocados no governo — pode ser, como gostam, num hotel caro, em São Paulo. Após, negocie a criação de um enclave especializado para discutir as posições anteriormente aprovadas. Depois, convoque internamente um grupo de trabalho para traçar uma lista de prioridades para ser debatida em assembléia, com vistas a estudar a situação; apurar se produzir veículo é importante em país de baixa renda, ou se é melhor comprá-los no exterior; fazer um levantamento de mercado para a opção destes serem fornecidos por Cuba ou pela Venezuela; e apresentar sugestões para serem debatidas no próximo governo. Continua

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Data de publicação: 18/5/04