A distância que os
investidores estrangeiros estão tomando do Brasil, promovendo se não a
fuga, pelo menos o cancelamento de investimentos, tem base no receio
da falta de retorno em função da falta de crescimento econômico e
provocou reação no segmento empresarial: a formação do Movimento pela
Competitividade das Empresas Brasileiras. Os participantes têm a
convicção que a falta de velocidade na economia do país corta-o da
lista de destinos para as inversões estrangeiras.
A distância entre a competência privada e o desleixo público foi-me
dada a concluir durante almoço com o eng. Rogélio Golfarb, presidente
recém-empossado da Anfavea, a associação das fábricas. Recentemente
tirou um dia de sua agenda para vir a Brasília e ficar por conta do
pioneiro Museu do Automóvel inaugurado na Capital Federal. Uma
demonstração de prestígio à idéia de salvar veículos e conquistas da
indústria automobilística no Brasil, e de respeito à história, dever
de casa que o Museu cumpre, mas que deveria ser obrigação das fábricas
nacionais e da associação que dirige.
O eng. Golfarb é um homem de habilidades demonstradas em seu discurso
de posse, surpreendendo ao traçar metas de conquista de vendas e
resultados em sua gestão, condicionando-os a parâmetros que devem ser
perseguidos pela administração pública caso não queira atrapalhar a
retomada de crescimento, lucros, remuneração de investimentos, e a
possibilidade de futuro para a indústria automobilística no Brasil. Na
conversa descontraída fez as colocações de maneira profissional,
poupando-se das conclusões que poderiam criar embaraços nas mesas
oficiais que freqüenta.
Duas se combinam com a notícia de abertura deste comentário, o desabar
deste país na lista de conquistas econômicas e de competitividade. A
primeira foi numérica: para que uma fábrica consiga economizar 5
dólares na construção de um carro, sem tirar componentes —
suprimindo-os, como fazem, sem arte, é enganação —, tem que contratar
50 engenheiros, para auditar todo o processo produtivo.
Mas tal economia nada resolve, porque ao momento em que o produto sai
da fábrica, seja a caminho dos concessionários, seja para exportações,
no que depender de estrutura administrada pelo governo, o prejuízo
infringido é grande. Seja pela carga de impostos, a cada dia aumentada
em parcelas e em percentuais, seja pela falta de estrutura
profissional — desde o relacionamento pouco claro sobre os
transportadores de veículos, até os buracos nas estradas que retardam
a entrega dos produtos, os pedágios caros, sem lei e sem ordem, a
confusão nos portos, de operação demorada, cara, descuidada e danosa
aos veículos.
A busca por produtividade e competitividade do Brasil, interna e
externamente, é comprometida pelos custos indiretos que oneram o
produto e reduzem vendas e lucros. A segunda é âmbito institucional.
Ele entende que o país — quer dizer a administração federal sem
projetos — não entende que a indústria automobilística no Brasil pode
ter caído em produção para a 11ª. ou 12ª. posição em volume de
produção e vendas. Mas que é mercado volumetricamente importante, e
acima de tudo, constitui-se num nível de preparo que poucos países
podem exibir.
Segundo o presidente da Anfavea, além do fato de o país dispor de
recursos naturais, tem instalações industriais novas, competitivas; um
parque de autopeças de primeiro nível; mão de obra qualificada e
testada; e acima de tudo engenharia de desenvolvimento com excelente
nível de qualidade, capaz de projetar e construir veículos inteiros,
competentes, duráveis e de custo contido.
Como o Brasil, avalia, talvez existam cinco países tão preparados para
fazer veículos — e nenhum dos mercados emergentes, tão festejados
ultimamente, como México, Rússia, China, tem estas capacidades. “O
país tem que ter mercado interno“, enfatiza. “Exportações devem ser
conseqüência disto”.
Os números são alarmantes. Um carro que custe o número 100 no portão
da fábrica chega ao consumidor a 180. Se não tiver motor de 1,0 litro,
ultrapassa os 200. Nos Estados Unidos, onde o consumo em grandes
volumes garante emprego, impostos e consumo em grandes volumes, este
veículo chega ao comprador a pouco mais de 110. Lá, todos os impostos
somam 6%! |