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Carros do Passado

O último grande Maserati

O encontro com o Khamsin, um italiano potente,
feroz até parado. Um marco na história da empresa

Texto: Marco Antônio Oliveira - Fotos: divulgação

O dia estava realmente lindo, daqueles em que o céu está tão azul e as cores tão vivas que praticamente era impossível ficar de mau humor... Ainda mais naquela situação. Meu Fiat Bravo alugado atravessava as montanhas Eifel ao oeste da Alemanha, por estradinhas truncadas de mão dupla e asfalto impecável, rumo a um templo religioso para quem tem a espiritualidade automobilística aguçada: o lendário circuito de Nürburgring.

Um Khamsin preto, como o do encontro relatado neste artigo: as linhas imponentes transmitem agressividade e permanecem atraentes depois de quase três décadas

Era a segunda vez que me dirigia àquele solo sagrado, local onde o suor, as lágrimas e o sangue de lendas como Fangio, Hawthorne, Stewart, impresso em cada curva, mistura-se a uma paisagem de conto de fadas (com castelo no topo e tudo) e culmina com o assustador traçado do temido Nordschleife, o anel norte, de 20,8 km a volta. Estava mantendo uma velocidade razoável, mas ainda longe de meus limites e dos do carro. Afinal, com a janela aberta e curtindo um Marlboro Lights, queria aproveitar cada minuto que restava daquele dia, em que acabava de atravessar a Alemanha a velocidades que dariam cadeia em qualquer outro lugar do mundo.

Não sei há quanto tempo ele estava em minha traseira... Perdido em meus pensamentos, não notei sua aproximação. A primeira coisa que percebi foi o barulho: um borbulhar grave que só poderia sair, pensei, de um V8 americano de grande cilindrada. Quem estaria "perdido" por ali com um carro desses?

Este Maserati foi desenhado por Marcello Gandini -- autor do Miura, Countach e Diablo -- em um tempo de competição entre os projetistas italianos

Mas uma olhadela no retrovisor revelou algo infinitamente mais raro e interessante, bem junto ao pára-choque traseiro do Fiat: Khamsin! Um dos menos conhecidos Maseratis, mas ainda assim, em minha opinião, o mais exótico e belo de todos eles. Apaguei o cigarro e me ajeitei no banco: hoje realmente era meu dia!

Então ele me ultrapassou: o ronco grave de tenor em segundos se tornou um grito gutural e mais agudo que só poderia ter vindo de Modena, e como um dardo negro (que todos sabemos ser a cor ideal para esse tipo de carro; deixemos o vermelho para os mais exibidos), rapidamente passou por mim refletindo a luz clara do dia em sua pintura impecável. Mas não iria longe: aquela estrada cheia de curvas me permitiria apreciar a beleza de suas linhas ainda por um bom tempo. 

Um de seus detalhes curiosos: um painel de vidro na traseira, que permitia enxergar o interior ou, neste ângulo, parte das janelas laterais e do pára-brisa

Fiquei por minutos em sua traseira, dando tudo que o Bravo podia. A visão que tinha do carro era hipnotizante: um teto baixíssimo, que acabava com a traseira cortada abruptamente. Nela, uma moldura e um painel de vidro que deixava observar os movimentos do piloto (e portanto antecipá-los). Flutuando nos cantos desse painel de vidro ficavam as lanternas traseiras, e ao meio, abaixo da moldura, quatro enormes saídas de escapamento cromadas, agrupadas em dois pares, que despejavam uma sinfonia arrepiante. Continua

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Data de publicação deste artigo: 9/2/02

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