Dirigindo do lado errado

Por que um terço do mundo roda "ao contrário", pela
esquerda da via, e como isso afeta carros e motoristas

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Raro é o motorista que nunca ouviu falar da "mão inglesa", a circulação à esquerda da via adotada na Inglaterra. O que poucos sabem é que esse padrão vigora em mais de 70 países, que concentram um terço da população mundial.

Quando não havia automóveis e os homens andavam a cavalo, a circulação à esquerda da via era considerada a mais coerente: como a maioria das pessoas é destra, o cavaleiro tinha maior facilidade em usar sua espada caso encontrasse um adversário, que viria por sua direita. Além disso, é pelo lado esquerdo do cavalo que normalmente se monta e, como o mais seguro é fazê-lo a partir da calçada e não do meio da rua, nada mais natural que sair trafegando por esse mesmo lado da via. Os ingleses foram os primeiros a tornar essa conduta obrigatória, por meio do General Highways Act de 1773.

Por outro lado, no século 18 começaram a se tornar comuns nos Estados Unidos as grandes carroças, puxadas por pares de cavalos. O condutor sentava-se sobre o último cavalo à esquerda, para poder chicotear os animais com a mão direita. Com isso, a circulação à direita da via tornava-se mais natural, pois a posição mais ao centro da rua facilitava o controle da carroça em meio aos pedestres. Data de 1792, na Pensilvânia, a primeira lei americana que determinava que as pessoas mantivessem a direita, seguida dois anos depois por Paris.

Há quem diga que foi Napoleão Bonaparte quem exigiu a adoção do sistema francês nos países por ele conquistados. Para muitos é apenas lenda, mas não deixa de ser curioso que na Áustria, durante muito tempo, metade do país tenha usado um padrão e metade o outro — sendo a linha divisória o limite da região conquistada por ele em 1805. O que se pode afirmar, de qualquer modo, é que Inglaterra e França impuseram seus padrões de circulação aos territórios que colonizaram. No Canadá, as regiões controladas por cada país adotaram um sistema diferente, divergência que só se extinguiu em 1920 com a opção pela mão à direita.

Surge o automóvel   No início da história do carro o volante era aplicado em posição central, de modo que o motorista se sentava eqüidistante das extremidades do veículo. Alguns fabricantes, no entanto, passaram a definir uma posição deslocada para o condutor.

Se estivesse mais ao centro da via, teria melhor controle do tráfego à frente; se ficasse do lado oposto, poderia evitar colisão com obstáculos à margem da via. Depois de alguns modelos com volante à direita, começou em 1908 com Henry Ford a convenção de colocá-lo à esquerda. À medida em que os carros americanos ou seus projetos chegavam a outras nações, mais países viam a necessidade de seguir o padrão de mão à direita. No entanto, até os anos 30 a divergência era geral.

Um estudo da National Geographic em 1936 ainda mostrava a dominância da mão esquerda sobre a direita, com 60 países contra 43. E apontava o problema dos europeus: "Considere um motorista que tente dirigir da Noruega à Itália pelos Dolomites. Ele começa em Aslo pela direita até chegar à fronteira sueca. Então assume a esquerda. Quando chega à Dinamarca, volta à direita da estrada. Na Alemanha vale o mesmo, mas ele retorna à esquerda na Tchecoslováquia. E, assim que se acostuma a dirigir por esse lado na Áustria, tem de mostrar nervos de aço para comutar novamente à circulação à direita na Iugoslávia e na Itália."

Até a Primeira Guerra Mundial, a mão à esquerda era o padrão também na Rússia, Hungria, Suécia, Argentina, Paraguai, Uruguai, China, Filipinas e em parte do Canadá, Áustria, Chile e Itália. A maioria desses países adotou o sistema à direita ainda na primeira metade do século passado, embora alguns tenham levado mais tempo. Hoje algumas ex-colônias britânicas mantêm o padrão inglês, mas outras — caso dos Estados Unidos, Canadá, Gana e Nigéria — passaram à circulação à direita. Mesmo assim, em alguns países expressivos no cenário mundial a circulação inglesa se mantém, como no Japão e na Austrália.

No total, mais de 70 países seguem tal convenção, entre eles África do Sul, Bahamas, Bangladesh, Cingapura, Guiana, Hong Kong, Índia, Indonésia, Irlanda, Jamaica, Malásia, Moçambique, Namíbia, Nepal, Nova Zelândia, Paquistão, Quênia, Suriname, Tailândia, Zâmbia e Zimbábue. A população dos países com mão à esquerda corresponde a 34% da mundial, mais do que muitos de nós imaginamos. Curiosamente, a proporção se inverte quando são consideradas apenas ilhas: mais de 70% da população que vive nesse tipo de país circula pela esquerda, contra apenas 29% dos habitantes de países continentais. Continua

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Data de publicação: 24/4/07

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